Por que Encerramos as Atividades do Laboratório Municipal: Um Estudo Detalhado de Viabilidade Técnica e Financeira

“A decisão de encerrar as atividades do laboratório municipal não foi tomada de forma precipitada. Foi resultado de uma análise criteriosa, envolvendo estudos financeiros, operacionais e técnicos”, segundo a secretaria municipal de Saúde, Marcia Fernandes de Carvalho, e à servidora pública do município, Keila Picolo. O convite havia sido formulado pela vereadora Anne Gomes.  A seguir, os principais dados e justificativas que embasaram essa difícil decição, conforme os dados apresentados.

Custo Operacional Elevado e Sustentabilidade Financeira

Atualmente, o laboratório municipal consome aproximadamente R$ 2,5 milhões anuais em recursos livres do município. Desse valor:

  • R$ 1,5 milhão refere-se a custos com insumos, equipamentos, locação, controle de qualidade e o sistema de gerenciamento (IDS Saúde);
  • R$ 919 mil são destinados à folha de pagamento dos funcionários.

Além disso, custos indiretos, como água, energia elétrica, telefonia, lavanderia e manutenção predial, não foram mensurados, pois são compartilhados com outras unidades do município. Ainda assim, esses valores estão, em parte, considerados no montante total estimado de R$ 2,5 milhões.

Comparativo com Laboratórios Terceirizados

Entre 2019 e 2024, laboratórios terceirizados realizaram cerca de 550 mil exames, dos quais:

  • R$ 3,2 milhões foram custeados com recursos vinculados (Tabela SUS);
  • Apenas R$ 211.752,24 foram pagos com recursos livres, representando 6,43% do total.

No mesmo período, o laboratório municipal realizou 609.081 exames, ao custo de R$ 3.070.596,56, 100% com recursos livres.

Custo por Exame: Municipal vs. Terceirizado

Hemograma (2024):

  • Laboratório Municipal:
    • Equipamento (locação): R$ 4,28
    • Reagentes: R$ 3,95
    • Materiais de coleta: R$ 2,90
      Total médio: R$ 11,13 (sem contar despesas indiretas)
  • Laboratório Terceirizado via SUS: R$ 4,11

Exame de Urina:

  • Antes de 2024 (equipamento simples): tira de urina custava R$ 0,29
  • A partir de 2024 (novo equipamento): tira passou a custar R$ 1,60, um aumento superior a 500%
    • Custo total atual (municipal): R$ 3,67
    • Custo via terceirizado SUS: R$ 3,70

Inversão na Produção dos Exames

Até 2022, o laboratório municipal era responsável pela maioria dos exames. Entretanto, a partir de 2023, houve uma inversão:

  • A maior parte dos exames passou a ser realizada por laboratórios terceirizados.
  • A porcentagem dos exames feitos internamente caiu de mais de 70% para menos de 35%.

Importante destacar que a equipe de servidores se manteve constante durante esse período, mesmo com a introdução de equipamentos mais modernos e caros. Paradoxalmente, a capacidade de produção caiu, o que configura uma ineficiência do ponto de vista de gestão pública.

O Desafio da Expansão e Modernização

Para manter o laboratório funcionando com viabilidade técnica e financeira, seria necessário:

  • Expandir fisicamente a estrutura, aumentando o número de boxes de coleta (atualmente são quatro);
  • Adquirir ou alugar equipamentos mais modernos;
  • Ampliar a equipe em até 300%, com novos técnicos e auxiliares;
  • Descentralizar postos de coleta para facilitar o acesso da população;
  • Implantar sistemas de integração entre laboratórios próprios e terceirizados;
  • Criar uma equipe de plantonistas para atender demandas emergenciais, como as da UPA.

Todos esses pontos exigiriam investimentos altíssimos, inviáveis no cenário atual.

Considerações Finais e Realocação de Recursos

Os servidores do laboratório, por serem concursados, serão realocados para outros setores do sistema de saúde municipal. A economia prevista com o encerramento das atividades laboratoriais é de aproximadamente R$ 1,5 milhão por ano – valor que poderá ser reinvestido em outras áreas prioritárias da saúde pública. Além disso, como os exames terceirizados são pagos via Tabela SUS, o município continuará economizando recursos próprios, aumentando a eficiência da aplicação do orçamento. E vale destacar: a demanda anual de exames tem crescido em torno de 22%, impulsionada pelo constante crescimento populacional da cidade.

Conclusão

Manter o laboratório municipal ativo exigiria uma reestruturação profunda, um alto investimento financeiro e uma escala de produção que só seria viável em consórcio com outros municípios ou em grandes centros. Diante da impossibilidade de competir com a eficiência e escala dos laboratórios terceirizados, a decisão pelo encerramento foi baseada no princípio da economicidade e no compromisso com a sustentabilidade do sistema público de saúde. Essa escolha visa garantir um melhor uso dos recursos públicos, ampliando a qualidade e o alcance dos serviços oferecidos à população.

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