Jacomo Trento, ‘Porto Alegre’, Líder da Revolta dos Colonos de 1957, Falece aos 92 Anos

No Legislativo “Memória”

O Título de Cidadão Honorário concedido a Jácomo Trento pela Câmara Municipal de Pato Branco em 2014 foi uma homenagem proposta pelo vereador Enio Ruaro, reconhecendo suas contribuições e sua luta em prol dos colonos da região, marcando sua importância para a história do município. Em discurso Trento destacou a trajetória histórico. Clique aqui e confira o discurso de Trento.

No dia 9 de outubro de 1957, um episódio histórico marcou o Sudoeste do Paraná: a Revolta dos Posseiros. Para muitos, foi apenas um levante popular; para outros, um marco de resistência e dignidade. Para mim, foi o acontecimento mais importante da minha vida. Até então, eu levava uma vida simples. Era comerciante, vendendo rádios e eletrodomésticos pelo interior da região com meu jipe. Conhecido como “caixeiro viajante”, percorria casas e colônias, de município em município, sem qualquer envolvimento político ou social até abril de 1957.

A Revolta dos Posseiros: Memórias de um Protagonista

Jacomo Trento, conhecido carinhosamente como Porto Alegre, figura emblemática na história do Sudoeste do Paraná, faleceu hoje, 22 de agosto. Sua partida marca o fim de uma era para a região, que o reconhece como um dos protagonistas da histórica Revolta dos Colonos de 1957. Porto Alegre não foi apenas uma testemunha, mas um ativo participante de um dos movimentos sociais mais significativos do estado, que moldou o destino de milhares de famílias de posseiros e colonos.

O Papel de Porto Alegre na Revolta dos Colonos

Jacomo Trento, apelidado de Porto Alegre devido à sua origem gaúcha, era um comerciante de equipamentos elétricos que percorria o interior do Sudoeste do Paraná. Essa atividade lhe proporcionou um contato direto e profundo com a realidade dos colonos e posseiros da região, que enfrentavam sérios problemas de regularização fundiária e a violência de companhias de terras grileiras. Sua ligação com o radialista Ivo Thomazoni, da Rádio Colméia de Pato Branco, foi crucial. Trento atuava como uma espécie de repórter informal, alimentando a rádio com informações sobre a situação dos colonos, o que ajudou a mobilizar a população e a dar visibilidade à causa. Ele é lembrado como um dos líderes que lutou ao lado dos colonos e posseiros, defendendo seus direitos à terra.

A Revolta dos Colonos de 1957: Um Marco na História do Paraná

A Revolta dos Colonos, também conhecida como Revolta dos Posseiros, foi um levante popular que eclodiu em 10 de outubro de 1957 no Sudoeste do Paraná. O movimento foi uma resposta à grilagem de terras e à violência praticada por companhias como a Clevelândia Industrial e Territorial Ltda (CITLA), que reivindicavam a posse de terras já ocupadas por milhares de famílias. A disputa pela terra na região tinha raízes profundas, remontando à criação do Território Federal do Iguaçu em 1943 e à atuação da Colônia Agrícola Nacional General Osório (CANGO), que atraiu migrantes do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. No entanto, a falta de regularização fundiária e a atuação de empresas inescrupulosas geraram um cenário de conflito e injustiça. O levante culminou com a tomada de diversas cidades, incluindo Francisco Beltrão, Capanema, Pato Branco e Santo Antônio do Sudoeste, por cerca de 6 mil colonos armados com ferramentas agrícolas e armas improvisadas.

A Rádio Colméia, com o apoio de figuras como Jacomo Trento, desempenhou um papel fundamental na organização e comunicação dos posseiros. A revolta resultou na desapropriação das terras em litígio pelos governos de Jânio Quadros e João Goulart anos depois, e na distribuição de títulos de propriedade aos colonos, consolidando uma importante vitória para os trabalhadores rurais e para a história da reforma agrária no Brasil.

Legado e Reconhecimento

Jacomo Trento, o Porto Alegre, deixa um legado de luta e resistência. Sua vida foi dedicada à defesa dos direitos dos mais vulneráveis e à construção de uma sociedade mais justa. Sua participação na Revolta dos Colonos é um testemunho de sua coragem e compromisso com a causa dos posseiros. A memória de Porto Alegre permanecerá viva na história do Sudoeste do Paraná, como um símbolo da força e da determinação de um povo que lutou por sua terra e dignidade. A comunidade do Sudoeste do Paraná e todos aqueles que conhecem sua história lamentam profundamente sua perda e celebram sua vida e contribuições inestimáveis.

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