Dor, Descaso e Falta de Respeito à Vida: Vereadora Denuncia Falhas Graves na Saúde Pública de Pato Branco

Na sessão da Câmara Municipal de Pato Branco, a vereadora Anne Gomes, relatou o drama vivido por um idoso de 70 anos e seu filho, um homem simples, calmo e educado, que a procuraram pedindo ajuda para conseguir uma cirurgia autorizada, mas nunca realizada. O caso, segundo ela, começou em março, com uma infecção urinária que se agravou com o tempo. “Desde março, ele vinha adoecendo. Foram meses de promessas, idas e vindas, de espera e angústia”, contou. Mesmo com o encaminhamento para cirurgia geral e a autorização da Secretaria de Saúde, o procedimento foi adiado repetidamente, sob a justificativa de que o caso era eletivo — ou seja, não urgente.

A vereadora descreveu o estado debilitado do paciente, afirmando que chegou a ver fotos e exames, e que a situação era gravíssima: “Ele estava urinando com fezes. Isso é muito sério.” Após diversas tentativas e reiterações junto ao hospital, Anne disse ter orientado a família a recorrer ao Ministério Público. Somente após essa pressão o médico responsável decidiu realizar o procedimento. “Depois de tanta insistência, a cirurgia foi feita. Graças a Deus deu tudo certo. E não quero agradecimentos — faço isso por humanidade, não por ser vereadora”, afirmou.

Alta Precoce, Retorno à UPA e Morte

A história, no entanto, teve um desfecho trágico. Segundo Anne, o idoso recebeu alta hospitalar no dia 2 de novembro, após uma cirurgia complexa e de alto custo para o município. Pouco tempo depois, o filho voltou a procurá-la, relatando que o pai não estava bem. O paciente foi novamente internado na UPA com insuficiência renal grave. Enquanto aguardava atendimento no hospital, o quadro piorou rapidamente e ele foi transferido à UTI — onde veio a falecer poucas horas depois. Visivelmente abalada, Anne desabafou no plenário:“Eu não me conformo. As vidas estão sendo tratadas como se não valessem nada.”

Desrespeito Mesmo Após a Morte

A vereadora também denunciou o que chamou de falta de respeito até com os mortos. Segundo ela, as coroas e flores do sepultamento foram retiradas poucas horas após o enterro, deixando a família ainda mais abalada. “Nem com os vivos, nem com os mortos há respeito. Custava deixar as flores ali por um tempo, para confortar a família? Isso é desumano”, afirmou.

Em tom de indignação, Anne reafirmou seu compromisso em defender quem não tem voz: “Eu não vou me calar. Enquanto tiver voz, vou usá-la por quem não consegue se defender. Esse é o meu papel aqui.” A vereadora encerrou sua fala emocionada, dizendo que não consegue se desligar da dor das pessoas: “Sou vereadora, mas sou gente. Tenho sentimento, e assim serei sempre.”

Repercussão no Plenário: Vereador Rodrigo Correia Cobra Ação e Investigação

Após o relato, o vereador Rodrigo Correia expressou tristeza e revolta com o caso apresentado pela colega. Ele afirmou que há muito tempo vem alertando sobre a fila de espera por exames e cirurgias, sendo inclusive acusado de mentir por denunciar a situação. “O que a vereadora trouxe hoje é um absurdo. E de nada adianta ficarmos desabafando aqui. Precisamos agir de forma diferente”, afirmou.

Correia criticou o conflito constante de responsabilidades entre a Secretaria Municipal de Saúde, o CONIMS (Consórcio Intermunicipal de Saúde) e os hospitais credenciados. “A Secretaria joga a culpa no CONIMS, o CONIMS nos hospitais, e os hospitais devolvem para o CONIMS. Enquanto isso, a população está padecendo”, denunciou.

O vereador anunciou que está estudando a abertura de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para apurar as causas do colapso no sistema de saúde municipal. “Quero ver quem aqui vai ter coragem de assinar essa CEI. Falar até papagaio fala. Quero ver coragem para investigar de verdade o que está acontecendo com a saúde de Pato Branco.”

Dívida de R$ 3 Milhões e Suspensão de Serviços

Correia revelou que o município tem uma dívida de R$ 3 milhões com o CONIMS, o que estaria comprometendo diversos atendimentos. Segundo ele, profissionais e serviços foram suspensos por falta de pagamento. Um dos casos mencionados foi o da psicóloga concursada que atuava no Centro de Reabilitação, e que foi demitida pelo consórcio: “Ela ajudava no atendimento, mas foi exonerada porque o município não pagou o consórcio. São inúmeros os serviços afetados.”

O vereador informou que protocolou um requerimento solicitando a relação completa dos serviços prestados pelo CONIMS, mas ainda não obteve resposta. Entre as despesas registradas estão transporte de pacientes, hospedagem em casas de apoio em Curitiba, e compra de medicamentos e insumos, que somam milhões de reais.“Enquanto isso, as especialidades disponíveis são poucas. As pessoas continuam sem atendimento, sem cirurgia, sem exames.”

Pato Branco Atendendo Toda a Região e o Debate Sobre o Consórcio

Rodrigo Correia defendeu que o município repense sua permanência no CONIMS, caso não haja melhorias concretas. “Se for para continuar, tem que ter consulta, exame, cirurgia. Não podemos pagar caro por um serviço que não entrega o que a população precisa.” Ele destacou que Pato Branco recebe pacientes de 32 a 33 municípios consorciados, muitos vindos de Santa Catarina, o que sobrecarrega o sistema local. “Temos aqui um dos melhores hospitais de olhos do estado, da família Pires, que atende toda a região oeste catarinense. E o nosso povo fica na fila, sem atendimento”, criticou.

Indignação com a falta de atendimento local e o compromisso por investigação

A vereador encerrou sua fala destacando um caso que simboliza o descaso com a saúde pública no município. Segundo ele, um cidadão de 86 anos precisou ser encaminhado de Pato Branco até Cascavel para realizar uma cirurgia de catarata — um procedimento de baixa complexidade que, em tese, deveria ser oferecido no próprio município. “Olha o absurdo, gente”, desabafou, evidenciando a distância entre o que é prometido e o que efetivamente é entregue à população. O parlamentar ressaltou que outros municípios do Paraná conseguem atender demandas semelhantes sem precisar deslocar pacientes a grandes distâncias, o que torna ainda mais preocupante a situação local.Diante desse cenário, ela anunciou que pretende investigar a fundo o que está acontecendo com o sistema de saúde de Pato Branco. O compromisso, segundo afirmou, será conduzido de forma transparente e participativa:

“Eu vou estar estudando e vou trazer aqui. Vou visitar cada um dos senhores e das senhoras, e vamos abrir uma CEI para investigar o que está acontecendo realmente na saúde em Pato Branco.” Com isso, a vereador encerrou sua fala reafirmando a necessidade de responsabilização e fiscalização, para garantir que o direito à saúde pública de qualidade seja efetivamente assegurado aos cidadãos pato-branquenses.

RSS
Follow by Email
YouTube
YouTube