Audiência Pública em Pato Branco Rejeita Redução de Adicional de Insalubridade para Servidores Públicos

 

Em uma audiência pública lotada na Câmara de Vereadores de Pato Branco, realizada na noite de ontem, servidores públicos municipais, especialmente da saúde, educação e meio ambiente, manifestaram forte oposição ao Projeto de Lei (PL) 113/2025, que propõe alterar a base de cálculo do adicional de insalubridade de salário mínimo para um valor fixo de R$ 2.815,00. O evento, proposto por todos os 11 vereadores, reuniu mais de 200 participantes e destacou a necessidade de diálogo para resolver uma inconstitucionalidade apontada pelo Ministério Público desde 2006.

O assessor de assuntos legislativos da prefeitura, Carlinho Polazzo, representando o executivo municipal, o prefeito Géri. Dutra, abriu a sessão explicando o histórico do problema. Segundo ele, o Estatuto dos Servidores, criado em 1993 com base no vencimento do cargo, foi alterado em 2006 para o salário-mínimo, o que foi considerado inconstitucional pelo Judiciário a partir de 2013.

Em 2024, o município firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público, comprometendo-se a corrigir a irregularidade. Palazzo defendeu a criação de uma comissão tripartite – envolvendo executivo, legislativo e servidores – para encontrar um equilíbrio entre os direitos dos trabalhadores e a capacidade financeira do município. “O desafio é achar o equilíbrio entre o direito dos servidores e a capacidade de pagamento do ente público”, afirmou, enfatizando que o PL atual é uma proposta inicial, aberta a emendas, e não uma posição fechada.

O presidente do Sindicato dos Servidores e Funcionários Municipais da Prefeitura Municipal de Pato Branco (Sindserv), Alberi Giacomelli., expressou indignação com o projeto, classificando-o como um “retrocesso inadmissível”. Ele destacou o papel dos servidores na linha de frente durante a pandemia de Covid-19, onde muitos arriscaram a vida e perderam colegas. “Esse adicional não é privilégio, é compensação e justiça”, disse, apelando pela retirada do PL e por diálogo direto com o prefeito.

O advogado do sindicato, Felipe Corona Menegassi, reforçou a crítica, chamando a proposta de “sacanagem” e sugerindo a revogação simples da alteração de 2006, retornando ao vencimento básico como base. “É hora de lutar por melhores direitos, não por cortes”, declarou, criticando a falta de debate prévio com os servidores.

Representantes da saúde foram unânimes na defesa do adicional. A técnica de enfermagem Clarice Soares falou sobre a exposição diária a riscos biológicos e físicos, como agressões, e questionou: “Será que há estímulo para continuar na profissão com desvalorização?”.

O enfermeiro Lucas Miserski reiterou que a insalubridade é um “reconhecimento mínimo” pelas jornadas exaustivas e riscos, alertando para desmotivação e evasão de profissionais.

A médica Angela  Hoppen, representando diversas categorias da saúde, citou a Constituição Federal (artigo 7º, inciso XXIII) e normas regulamentadoras, argumentando que a redução fere princípios como irredutibilidade salarial e dignidade humana. “Reduzir isso leva à evasão de profissionais e compromete a saúde pública”, alertou, mencionando riscos invisíveis como bactérias multirresistentes.

Vereadores como Lindomar Brandão (presidente da Câmara), manifestaram apoio aos servidores. Brandão explicou o trâmite legislativo, afirmando que o PL está parado aguardando análise em comissões, e prometeu articular reuniões entre sindicato, executivo e classes afetadas. “O nosso voto é não ao projeto atual”, garantiu, enfatizando a imunidade parlamentar e a necessidade de votar para evitar omissão.

Ao final, Polazzo reafirmou a necessidade de agilidade para evitar passivos judiciais e parabenizou o debate maduro. Brandão anunciou encaminhamentos: envio da ata ao Ministério Público, solicitação de reunião para esclarecer o TAC e análise de alternativas, como o estudo de uma comissão de 2024 que sugeria bases variadas por categoria (a partir de R$ 2.833,83 ou piso de admissão). O Sindserv entregou um abaixo-assinado contra o PL, e o presidente da Câmara incentivou o acompanhamento das sessões pelas redes sociais.

A audiência encerrou com consenso pela busca de uma solução dialogada, sem aprovação imediata do PL. Servidores saíram otimistas, mas alertas: “Estamos cansados e esperamos que o município faça o melhor”, disse Alberi. O desfecho depende agora da comissão tripartite proposta e de negociações futuras, com o legislativo atuando como mediador para equilibrar legalidade, direitos e finanças públicas.

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