Polo de Educação Bilíngue para Surdos em Pato Branco: Inclusão, Luta e Perspectivas

Na tarde de sua participação na Câmara de Vereadores de Pato Branco, a professora voluntária do Polo de Educação Bilíngue para Surdos, Mirelia Vogel, mestre e docente vinculada à UTFPR, destacou a trajetória de luta e conquistas da comunidade surda no município. Representando a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e a Associação de Surdos de Pato Branco, ela iniciou sua fala com uma audiodescrição, reafirmando o compromisso com a acessibilidade. Ao lado da professora Aline Brancalione, Mirella agradeceu o convite dos vereadores e apresentou ao plenário representantes da Associação de Surdos, reforçando que, embora muitos não pudessem comparecer devido ao trabalho, estavam devidamente representados.

Origem e atuação da Associação de Surdos de Pato Branco

Fundada em 2011, a Associação surgiu da necessidade de dar voz e representatividade à comunidade surda local. Desde então, tem promovido ações voltadas ao esporte, cultura, ensino e lazer, consolidando-se como um espaço de fortalecimento social e comunitário. Atualmente, reúne cerca de 45 membros ativos, todos comprometidos em valorizar a identidade surda e defender o direito à acessibilidade e à inclusão.

O sonho de uma escola bilíngue

Entre os maiores objetivos da Associação esteve, desde o início, a criação de uma escola bilíngue que respeitasse a identidade linguística da pessoa surda. Essa proposta baseia-se na Lei 10.436/2002, que reconhece a Libras (Língua Brasileira de Sinais) como língua de comunicação e expressão das comunidades surdas do Brasil. Nesse modelo, a Libras é considerada a primeira língua (L1) e o português escrito a segunda língua (L2). Esse entendimento foi fortalecido pela Lei nº 14.191/2021, que incluiu a educação bilíngue para surdos como modalidade independente na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Apesar desse marco legal, em Pato Branco os alunos surdos ainda frequentam classes do ensino regular, muitas vezes sem intérprete de Libras, o que gera desigualdades e limita o pleno desenvolvimento educacional.

A criação do Polo Bilíngue em Pato Branco

Graças à mobilização da comunidade, foi inaugurado em 12 de abril de 2025, na Rua das Garças, nº 677, bairro Planalto 2, o Polo Bilíngue de Educação para Surdos de Pato Branco. O espaço tem oferecido aulas na primeira língua dos estudantes, possibilitando avanços significativos, especialmente na fase de alfabetização das crianças. Todo o trabalho tem sido desenvolvido de forma voluntária, com apoio de professoras da UTFPR responsáveis pela produção de materiais bilíngues e pela aplicação das aulas. Além do ensino, outras atividades – como transporte escolar, limpeza, lanche e serviços de apoio – também têm sido realizadas de maneira voluntária, demonstrando o comprometimento da comunidade com a causa.

Desafios e necessidade de apoio institucional

Apesar dos avanços, a manutenção do Polo Bilíngue depende de apoio do poder público. Atualmente, há protocolos na Secretaria de Educação de Pato Branco solicitando:

  • Transporte escolar adequado para os alunos;
  • Fornecimento de lanche durante o contraturno;
  • Disponibilização de professores bilíngues e surdos para apoio pedagógico;
  • Serviços de secretaria e apoio geral para o funcionamento do espaço.

Segundo Mirelia Vogel, não é possível manter indefinidamente todas essas funções de forma voluntária, já que isso implica riscos e limitações. Por isso, foi solicitado à Câmara de Vereadores o direcionamento de emendas impositivas e outros recursos que garantam a continuidade do projeto.

Educação bilíngue: um direito a ser garantido

O Polo de Pato Branco representa uma conquista da comunidade surda e um passo fundamental para assegurar o direito à educação de qualidade, previsto em lei. Como destacou Mirelia, trata-se de uma parceria essencial com a educação municipal, uma vez que ainda não há atendimento bilíngue estruturado no município. Garantir a continuidade e o fortalecimento do Polo é assegurar que crianças e jovens surdos de Pato Branco tenham não apenas acesso, mas também equidade educacional, respeitando sua identidade linguística e cultural.

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